domingo, 5 de setembro de 2010

A viagem inaugural do Norwegian Epic, o novo cruzeiro-gigante, pelo Caribe

MIAMI - Sábado, 7 de agosto de 2010. Primeira noite no oceano. Na cabine, longe do agito, com a janela da varanda entreaberta, ouve-se o som das ondas no casco do navio. O quase imperceptível balanço do mar embala o sono. Embarco no tempo das grandes navegações, penso no romantismo que cercava as incríveis viagens através do Atlântico, e lembro que minha família um dia cruzou os mares para aportar no Brasil. Minha mãe veio no pós-guerra, aos dois anos de idade. Meu pai chegou depois, em 57, aos 12 anos, e se recorda bem do navio que o trouxe, uma aventura: nos dias bons, nadou na piscina; nos de chuva, viu as ondas lavarem os basculantes dos dormitórios.

Em cada parada, os encantos das praias da Costa Maia, Cozumel e Roatán

Volto para 2010. Ficarei uma semana a bordo, para um roteiro bem diferente, com águas tranquilas, tequilas, e sol a pino, a julgar pela previsão do tempo. O Norwegian Epic parte de Miami rumo ao Caribe, deixando a silhueta da cidade para trás. Neste programa do navio que faz sua temporada inaugural, estão três recantos paradisíacos, a oeste: Costa Maia, no México; Roatán, em Honduras; e, na volta, Cozumel, também no México.

A atmosfera é bem distinta da visão romântica dos navios de antigamente. Muita gente, muita festa. Um clube com academia de ginástica, spa, parede de escalada, pistas de boliche, quadra de basquete. Uma cidade com lojas e cassino, discotecas e teatro, shows internacionalmente conhecidos como o do Blue Man Group, pela primeira vez num cruzeiro; bares e restaurantes com a mais variada gastronomia. Já na saída o convés se encheu de pessoas dançando e confraternizando em meio às piscinas e seus tobogãs. Tudo isso num "prédio" de 19 de andares. Os tempos são outros e os navios mudaram, mas a emoção do descobrimento que cercava a navegação permanece numa viagem que nos leva a outras terras e novos horizontes, onde ruínas e pirâmides se anunciam, num encontro com o passado.



Domingo. Dia de navegação, ideal para exploração. Mas por onde começar num navio com 19 andares? Café da manhã. Décimo quinto andar. Waffles com calda feitos na hora, todos os tipos de pães, ovos, suco de laranja, chocolate, frutas da estação, muffins e cereais. O lugar escolhido é o simpático e informal Garden Café, com vista para o oceano, o mesmo que na véspera servia um delicioso bufê com uma infinidade de pratos: frutos do mar, pizzas, sopas, massas, sobremesas.

Neste deque ficam também as piscinas. Não há quem resista à animação que vem lá de fora. Quem passeia pelo convés encontra um lugar ao sol numa das milhares espreguiçadeiras - mais precisamente, 2.395. Faz sentido para um navio que leva até 4.228 passageiros além de uma tripulação de 1.690 pessoas. E que pesa 153 mil toneladas.

Atravessando-se o parque aquático chega-se à piscina exclusiva para adultos. Bem mais quieta. Adormecer ali é fácil. Num calor de mais de 30º C, um telão imenso exibe imagens com neve, depois pinguins, geleiras. De repente, mergulha em tomadas do fundo mar. E corta para desertos e dunas. Um milk shake de chocolate neste momento é perfeito. Seguido de um revezamento da espreguiçadeira e jacuzzi com água quente entre um mergulho e outro na piscina.


Convés vistoriado e aprovado, é hora do almoço. Um almoço tardio, é verdade, mas esta é uma das vantagens de um cruzeiro freestyle, ou seja, sem horários ou restaurantes preestabelecidos para as refeições, além do clima de descontração do traje informal.

Uma apetitosa ideia é experimentar o Noodle Bar no sexto andar, onde os cozinheiros preparam na frente do cliente a especialidade chinesa escolhida: macarrão fresco com frutos do mar, arroz colorido frito, rolinhos primavera, sopas, entre outros. Para quem aprecia variar na gastronomia, o Epic é um prato cheio. Comida francesa no Le Bistro, italiana no La Cucina, asiática no Teppanyaki e até brasileira na churrascaria Moderno. Sem falar na pizza delivery, que entrega a qualquer hora no quarto, mesmo na fome da madrugada.

Shows e boates espantam calmaria em alto mar

Não, cruzeiro não é só comer. Tem academia de ginástica com modernas esteiras que correm na direção do mar, aparelhos de musculação, aulas de pilates e ioga. Parede de escalada. Pistas para um joguinho de boliche com a família ou os amigos. Várias formas de aliviar a culpa e poder pensar no jantar sem remorso.

Melhor ainda se a refeição for só o acompanhamento: na tenda de circo Spiegel Tent, o jantar, apesar de saboroso e muito bem servido, é coadjuvante do espetáculo do Cirque Dreams and Dinner. Artistas atletas ou vice-versa impressionam pelo talento, precisão e ousadia nas acrobacias de tirar o fôlego. O nosso. Entre uma garfada e outra é difícil concentrar-se na comida.

Tarefa difícil escolher o que assistir primeiro. Vale organizar a agenda a cada noite. Mesmo já incluído no cruzeiro, é preciso fazer reservas para ver o Blue Man Group e garantir a entrada para o show mais aguardado, que acontece em quatro noites do cruzeiro, em dois horários diferentes. Mistura de teatro, música e comédia, o espetáculo multimídia começou num pequeno teatro off-Broadway e fez tanto sucesso que os homens azuis se multiplicaram e ganharam o mundo e plateias maiores. No Epic, o show ainda guarda um certo clima intimista apesar de o teatro ser maior do que o original em Nova York. Numa linguagem que dispensa a comunicação oral, a conexão com o público é imediata devido ao caráter interativo do grupo. Fora de cena, os atores transitam pelo navio sem serem reconhecidos, reservando uma conversa de cara lavada com os passageiros no final da viagem.

Outros shows disputados são o Legends in Concert e o Second City Comedy Troupe. O primeiro, grande sucesso em Las Vegas, é um cover muito bem produzido que reúne Tina Turner, Madonna e Elvis Presley. O segundo é formado por uma trupe de atores que faz um teatro de esquetes e improvisação com muito humor.

Para conhecer o Ice Bar, o ingresso é pago à parte e também é necessário fazer reserva. Inspirado nos bares dos hotéis de gelo da Escandinávia, este é o primeiro a bordo de um navio. E numa viagem ao Caribe, é uma surpresa poder sentir um frio de 8ºC negativos. Os visitantes podem se agasalhar com os casacos de pele sintética oferecidos e têm direito a dois drinques com vodca para se aquecer. O tempo máximo de permanência é de 45 minutos, mas antes disso a maioria desiste da experiência.

E como a noite no Epic é uma criança, dá tempo ainda de ver muita coisa acontecer, como o show de jazz e blues no Fat Cats. Um clube romântico a meia-luz onde vale pedir um dry martini e perder a noção da hora. A alma fica leve e na saída chega a estranhar o tumulto de fora. O cassino está a mil, com seus caça-níqueis coloridos tilintando, as roletas que giram, os grandes lustres de cristal reluzindo, e as mesas de pôquer e black jack que recebem as apostas dos passageiros.

Neste mesmo deque mais ao fundo, no clube de comédia Headliners, chama a atenção um animadíssimo duelo de rock'n roll com pianos, o Howl at the Moon. Todos na plateia podem participar anotando sua canção preferida num bilhetinho que é entregue aos músicos. Eles disputam quem vai tocar e cantar cada uma. O repertório, então, dá para imaginar, inclui as mais variadas músicas de rádio em inglês, que todo mundo está cansado de conhecer e ouvir e, por isso mesmo, curte demais. Para se ter uma ideia do clima, a mais pedida é "Don't stop believin'".


Na volta ao quarto para me trocar, esbarro com Johnny no corredor, meu camareiro, que conhece os hóspodes pelo nome. Atencioso, pergunta como está a viagem. E olha que nem estou numa das sofisticadas suítes do The Villas, com mordomo e tudo, elevador, piscina, bar e restaurante exclusivos para quem procura cabines de luxo e ambientes reservados somente a adultos.

Quem viaja sozinho pode aproveitar os modernos estúdios, cabines internas com janela redonda voltada para o corredor. Compactas mas com camas amplas, elas dão acesso ao "The Living Room", lounge exclusivo para estes hóspedes, um convite para quem quer fazer novas amizades. Para os que já encontraram seu par, há ainda as românticas suítes spa, com uma enorme cama redonda, jacuzzi e varanda. E os que já aumentaram a família podem usufruir das cabines triplas ou quádruplas próximas do Kids Crew, dedicado às crianças, com área Wii, espaço de artes e cinema.


A programação diária deixada sobre a cama na cabine lista as pistas de dança. A esta altura, a animação na Bliss está apenas começando, lugar ideal para quem ama discoteca. O ambiente é digno de uma verdadeira festa com direito a gaiolas, camas, pufes e sofás. Os tons púrpura, a iluminação feérica do bar e os doces drinques coloridos completam a decoração. O DJ não para e a música embala tudo. Ao som de "I gotta feeling", a galera dança e canta junto.

Como saideira, a Festa do Branco no Spice H2O: quando escurece, a área exclusiva para adultos tem a piscina transformada numa animada pista de dança a céu aberto. Com a maioria das pessoas aderindo ao dress code, a madrugada ganha ares de festa de réveillon. No fim da noite, fogos de artifício explodem. No telão.

O CRUZEIRO:
Roteiros:

Nesta temporada inaugural, os roteiros se alternam entre leste e oeste do Caribe, com sete noites cada, sempre partindo de Miami, até 30 de abril de 2011. Caribe Leste: Miami, St. Maarten, St Thomas, Nassau, Miami. Caribe Oeste: Miami, Costa Maia (México), Roatán (Honduras), Cozumel (México), Miami. A partir de 7 de maio de 2011, o Epic parte para temporada na Europa. Mais informações: (epic.ncl.com.br)

Preços:
A cabine New Wave, para casal, sai a US$ 1.200 por pessoa. A cabine Studio, individual, sai por US$ 890, mas já estão quase todas esgotadas até dezembro. O preço da cabine interna é US$ 780 por pessoa. E o da cabine SPA, para casal, sai por volta de US$ 2.980 por pessoa. É cobrada ainda uma taxa de serviço de US$ 12 por dia por pessoa. Taxas portuárias variam conforme o roteiro.

Cruzeiro freestyle:
Nessa modalidade, não há uma programação prédefinido de refeições a ser seguida. O passageiro faz sua agenda e escolhe onde e quando comer. Entre as opções estão 11 restaurantes. As refeições estão incluídas no preço da cabine e outros mais sofisticados que necessitam reserva e pagamento de taxa extra por pessoa (de US$ 10 a US$ 25). As bebidas são cobradas à parte.Os shows do Blue Man Group, do Legends in Concert e Howl at the Moon estão incluídos. O estilo livre estende-se para o vestuário informal.

O Gobo

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