segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Santa Maria de Jetibá: tradições de todas as cores

Tradições de todas as cores


Quando o assunto é produzir cultura, a tradição e os costumes dos antepassados são palavras de ordem em Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá. É o que constata a reportagem de hoje, a sexta da série sobre a produção cultural do interior do Espírito Santo, publicada aos domingos no Caderno Dois.

Os dois municípios da região serrana nasceram por causa da vinda dos imigrantes europeus (em sua maioria pomeranos) ao Estado no final do século XIX. Mesmo assim, a influência européia não tem sido a mais forte em Santa Leopoldina. O município também tem uma presença afro-brasileira representativa, com descendentes de ex-escravos na região de Retiro.

É lá que a aposentada Juventina Brito, 75 anos, mata as saudades da extinta banda de congo do Retiro de São Judas, enquanto apóia o trabalho dos netos na banda-mirim Unidos do Retiro. "A garotada faz um trabalho bonito e não deixa a tradição morrer", declara.
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Na sede de Leopoldina, o som também é negro. A prefeitura promove projetos de música para jovens e entre eles há aulas de percussão. Quem orienta os descendentes de pomeranos e italianos é um artista de Vitória, o percussionista Silvio Raul, o Mhellão.

Além da banda do retiro, ele coordena uma orquestra de percussão feminina e o Grupo Cultural Brasil Tambores. Com 22 componentes, a maioria de adolescentes, a trupe é referência em Santa Leopoldina. A ascendência européia não atrapalha ninguém a cair no ritmo do hip hop, axé music, samba e funk. "Acima de tudo são brasileiros e o Brasil é já tem intimidade rítmica", comenta Mhellão.


As tradições européias permanecem no artesanato. Das mãos de Rosana Leppaus, 46, saem trabalhos de costura, bordados em colchas e fronhas e bonecas feitas de palha de milho. "Bordando você reforça as tradições", observa a artesã.

Pomerânia. Em Santa Maria de Jetibá, a cultura passa pela valorização da identidade pomerana. O pequeno Richard, de um ano, mal balbucia palavras, mas crescerá falando o dialeto pomerano. O ensino faz parte da estratégia dos pais. "Esta cultura pode acabar se não houver uma mobilização de todos", justifica o pai, o administrador Hilderson Jacob, 22, integrante do grupo de dança Pommerland, que completa duas décadas este ano.

A funcionária pública Adriana Herbst, 25, participa do Grupo Folclórico Hochlandtanz e vê que o interesse pelos jovens em torno da cultura pomerana só tem crescido. "São oito grupos de dança. Esse interesse também ajuda no momento de angariar apoio do poder público e da iniciativa privada", comenta.

O estilo pomerano também dá as ordens no artesanato. Maria Stange, 36, confecciona bonecas com trajes típicos. À medida em que desenvolve os brinquedos ela vai aprendendo mais sobre os antepassados. Sua colega de bordado Verônica Schwanz, 33, reforça: "Hoje, além de ganhar um dinheirinho extra, é uma forma de espalhar essa cultura para além de Santa Maria, com os turistas".

O resgate não pára nessas ações e continua nas imagens captadas pelo cineasta Martin Boldt, 56. Ele já produziu sete filmes e - detalhe - todos falados em pomerano. "Eu escrevo sobre essa cultura, mas acho que a imagem funciona melhor", julga. Entre filmes de ficção e documentários, Boldt não quer que a Pomerânia capixaba caia no esquecimento, como a original.

Imperial. Situada a 46 quilômetros de Vitória, Santa Leopoldina foi casa do escritor Graça Aranha, no começo do século XX. O município foi fundado em 1887. O nome homenageia a mãe de D. Pedro II. Hoje conta com 12 mil habitantes.

Ovos. Santa Maria de Jetibá, a 80 quilômetros de Vitória, é a segunda cidade do país em produção de ovos. Sua fundação remonta a 1857, com a chegada dos pomeranos ao local. Os descendentes são a maioria da população, de 27 mil habitantes.

Fonte: A Gazeta

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